Por Milton Leal e Allex Ferreira
Ilustração: Aurélio Dias Trintin
“Por ter alto valor no desenvolvimento da inteligência e do raciocínio, é a matemática um dos caminhos mais seguros por onde podemos levar o homem a sentir o poder do pensamento, a mágica do espírito”, diz Beremiz Samir, personagem principal do livro infanto-juvenil “O homem que calculava”.
A obra, escrita pelo fictício autor Malba Tahan, narra as aventuras e proezas matemáticas de um calculista persa na Bagdá do século XIII. Publicada pela primeira vez em 1938, esta história mudou a vida — e o nome — de um jovem de Hortolândia, no interior de São Paulo.
Em 1994, aos 16 anos, Hamilton Amorim comprou em uma banca de jornal o seu primeiro CD-ROM, que trazia um conjunto de algoritmos. Utilizados na matemática e na informática, algoritmos são regras e procedimentos lógicos perfeitamente definidos que levam à solução de um problema em um número finito de etapas.
Para a surpresa do rapaz, muitos daqueles algoritmos contidos no disco eram iguais ou parecidos com os cerca de 30 algoritmos que ele havia desenvolvido por conta própria. Inspirado pelas peripécias do matemático persa, Amorim adotou para si a alcunha de “O Algorista”.
Aficcionado por tecnologia desde os 11 anos de idade, quando lia em casa as revistas Nova Eletrônica de seu pai, Amorim aprendeu a montar computadores antes mesmo de ter tido contato físico com um aparato. A primeira vez que viu um computador IBM XT foi aos 12 anos, quando sua mãe o matriculou em um curso de informática. Enquanto as aulas ensinavam o básico, ele, autodidata por natureza, absorvia, por meio de publicações impressas, conhecimentos de Assembly, a linguagem de programação entendida pelos computadores.
Alguns anos depois, decidiu cursar processamento de dados. Trabalhava durante o dia como operador de Telex e à noite estudava sobre bancos de dados e afins. Nos finais de semana, o laboratório de informática da escola era o seu local preferido, onde passava horas e horas tentando desvendar os segredos do mundo da computação. Nesta época, publicou artigos técnicos na revista Micro Sistemas, a primeira publicação brasileira especializada em microcomputadores, que circulou com esse nome até meados de 1997.
Desde então, nunca mais parou de arquitetar e programar sistemas.
A fascinante rede mundial de computadores
Em 1997, menos de 1% da sociedade brasileira tinha o privilégio e conhecimento técnico para acessar a internet. Amorim estava nesse seleto grupo e não demorou muito tempo para que encontrasse gente como ele que estava a milhares de quilômetros de distância. Por meio do Internet Relay Chat (IRC), famoso protocolo de comunicação dos primórdios da internet comercial, o Algorista foi apresentado ao mundo dos hackers.
Quase uma década depois, em torno de 2006, ele tomou conhecimento sobre um exótico coletivo de hackers que se intitulava como os “cypherpunks”, trocadilho derivado das palavras inglesas cipher (cifra; criptograma) e punk (movimento de contracultura), com alusão à palavra cyber (forma diminuta de cibernética, a ciência que desenvolve linguagens e técnicas que nos permitem abordar o problema do controle e a comunicação em geral).
Os cypherpunks eram matemáticos, criptógrafos e hackers que se preocupavam em encontrar maneiras de utilizar a criptografia para oferecer à sociedade os direitos de anonimidade, liberdade individual e privacidade.
Amorim começou a participar das discussões com os cypherpunks principalmente porque aqueles assuntos possuíam relação direta com o movimento hacktivista, do qual ele é partidário.
O hacktivismo é um movimento social que promove ideologia política, como liberdade de expressão, direitos humanos e informação ética, utilizando-se dos conhecimentos de hackers que escrevem códigos computacionais para subverter sistemas opressores. O WikiLeaks, uma organização internacional que baseia a sua atuação no vazamento de documentos governamentais secretos e comprometedores, é um dos maiores expoentes deste movimento.
Nos fins de 2009, enquanto realizava um trabalho de hacking para uma corporação do mercado financeiro brasileiro, Amorim acidentalmente deparou-se com uma discussão on-line sobre criptografia que falava sobre uma nova e revolucionária tecnologia de transferência de dinheiro por meio da internet.
Imediatamente, ele percebeu que algumas pessoas que participavam da conversa eram as mesmas com as quais ele costumava trocar mensagens no fórum dos cypherpunks. “Os assuntos que eram discutidos ali: uma moeda eletrônica com tecnologia peer-to-peer e temas como transparência e rastreabilidade eram os mesmos que estávamos acostumados a discutir. Fiquei fascinado. Passei a dedicar todo o meu tempo livre para estudar aquilo. Debulhei aquele conteúdo”, conta o Algorista.
A tecnologia em questão havia sido apresentada em uma lista de e-mail de cypherpunks, em 31 de outubro de 2008, por uma pessoa anônima que utilizou o codinome de Satoshi Nakamoto e que batizou a invenção de Bitcoin.
As raízes do Bitcoin
“Bitcoin é uma tecnologia que permite a criação de uma moeda alternativa”. É com este didatismo, característica que lhe é inata, que Hamilton Amorim define do que se trata o fenômeno que em menos de 10 anos deixou de ser uma engenhosa proposta computacional e transformou-se em um sistema global financeiro avaliado acima de uma centena de bilhões de dólares.
O protocolo do Bitcoin permite que qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo com acesso à internet, envie uma transação com alguma quantia de bitcoin. Em tese, essa transação não pode ser falsificada por nenhum participante da rede, muito menos censurada por qualquer governo, órgão ou entidade central.
Construído sob a premissa da arquitetura descentralizada de redes computacionais, o Bitcoin oferece à sociedade um banco de dados imutável que utiliza criptografia para garantir a segurança, autenticidade e validade das transações realizadas entre as pessoas, ou seja, ele é considerado um sistema peer-to-peer (P2P, de pessoa para pessoa).
Convencionou-se chamar este banco de dados que registra as transações de Blockchain (cadeia de blocos, em português), porque estas são organizadas e agrupadas em blocos que são amarrados criptograficamente, formando uma espécie de corrente de dados. Qualquer alteração em um elo desta corrente compromete a sequência como um todo e é automaticamente rejeitada pelos participantes da rede.
Em meados de 2010, no Brasil, a discussão sobre Bitcoin estava restrita a cerca de 30 pessoas, dentre as quais o Algorista, que participavam de um sub-fórum em língua portuguesa no site Bitcoin Talk. Para se ter ideia, a mídia brasileira somente publicaria o primeiro artigo sobre a tecnologia em junho do ano de 2011.
Foi nesta época que o assunto ganhou notoriedade internacional em decorrência do fato de o Paypal, Visa, Mastercard e bancos nos quais o WikiLeaks possuía contas terem bloqueado o acesso da organização aos recursos financeiros que recebia como doação. Como alternativa, o WikiLeaks anunciou que passaria a receber doações em Bitcoin, que não poderiam ser censuradas.
A partir daí, o Bitcoin Talk começou a receber muitos novatos que estavam curiosos pela tecnologia e que também haviam sido atraídos pelo aspecto especulativo associado ao ativo digital. Uma unidade de bitcoin valia cerca de US$ 1 até abril de 2011. Em julho do mesmo ano, a cotação era de US$ 31. No final de 2017, um bitcoin era negociado por cerca de US$ 20 mil.
“O negócio virou um brinquedo especulativo, mas não foi pra isso que fizemos o Bitcoin. Ele foi pensado para o mundo dos hackers. O idealizador estava doente e precisou lançar a ideia às pressas, porque estava à beira da morte”, argumenta Amorim, referindo-se ao cientista da computação norte-americano Hal Finney, que faleceu em 2014.
Finney recebeu a primeira transação de bitcoin na história, enviada por Satoshi Nakamoto, e é considerado por muita gente como a verdadeira pessoa por trás do pseudônimo do criador da tecnologia. “O Hal era o Satoshi. Tenho convicção disso”, afirma o Algorista.
A passagem do mundo virtual para o real
Em 2013, houve uma nova enxurrada de atenção midiática sobre o Bitcoin, devido à forte valorização no preço do ativo que chegou a valer mais de US$ 1000. Como consequência, milhares de novos entusiastas se interessaram pelo assunto.
Nesta época, a presença de Hamilton Amorim no fórum da comunidade brasileira no Bitcoin Talk era praticamente onipresente. Além de negociar bitcoins e discutir temas técnicos com profundidade, ele atuava como uma espécie de professor para os iniciantes no tema. “Ele era uma pessoa muito paciente, não se importava que o assunto já havia sido discutido em outro tópico. Ele mostrava os links que já existiam e respondia a fundo as dúvidas de qualquer pessoa. Na época que eu virei moderador, muita gente queria que o Algorista fosse o moderador, mas ele não quis, disse que não tinha tempo e que tinha outros projetos”, relembra Adriano Oliveira, um dos moderadores do fórum em português no Bitcoin Talk.
Amorim jamais poderia imaginar que a sua participação ativa neste mercado o levaria a tomar um soco na cara de um dos membros do ecossistema, que havia perdido dinheiro com a aquisição de algumas unidades de Bitcoin. “Esse é o preço que se paga pelo esforço em divulgar as criptomoedas”, lamenta.
A despeito deste fatídico episódio, o envolvimento e dedicação do programador paulista não diminuíram. Ele continuou a participar dos fóruns, muitas vezes com diferentes codinomes para preservar a sua identidade e também para poder aprender. “Interajo muito com as pessoas. Essencialmente, eu trato a todos como anônimos. Muitas vezes já vi gente dizendo que não tem nada para me ensinar. Eles nem imaginam o tanto que já me ensinaram ao responder minhas dúvidas que postei com outros perfis”, reflete.
A rotina de estudos do Algorista é metódica. Ele dedica de três a quatro horas por dia para estudar sobre novos protocolos criptográficos, novos mecanismos de consenso e incentivo de redes distribuídas e outros aspectos técnicos relativos à tecnologia do Blockchain. Além disso, ele também costuma ler um punhado de livros ao mesmo tempo, cujos conteúdos compreendem economia, sociologia e filosofia. A rede social preferida dele é o Reddit, um misto de agregador de notícias e fórum de discussão muito popular entre os entusiastas de Bitcoin e outros criptoativos.
A participação majoritariamente virtual do Algorista no ecossistema chegou ao fim em novembro de 2015, quando ele aceitou pela primeira vez, apesar dos inúmeros convites feitos anteriormente, participar como palestrante de um evento sobre Bitcoin e Blockchain. Organizado por um grupo de estudos da Faculdade Getúlio Vargas, em São Paulo, o pequeno evento de cerca de 50 pessoas reuniu os principais participantes do mercado brasileiro que estavam ativos naquela época.
Vestido com camisa social e uma gravata verde — contrariando completamente a imaginação dos presentes que estavam acostumados a interagir com ele virtualmente e que o estigmatizam como um hacker misterioso -, ele abriu a palestra dizendo que haviam lhe imcumbido da impossível missão de explicar a tecnologia mais revolucionária desde a internet em 40 minutos.
A advogada Tatiana Ticami, que se interessou em estudar o segmento de criptoativos quando fazia a sua tese de conclusão de curso, foi a responsável por fazer Hamilton aceitar a falar no evento. Organizando o encontro em parceria com o professor da FGV Alexandre Pacheco, ela queria levar alguém que pudesse explicar tecnicamente como o Bitcoin e o Blockchain funcionam. “Se você assistir ao vídeo da palestra, logo nota-se o conhecimento e facilidade do Hamilton em traduzir termos e conceitos muitos complexos em frases muito simples”, diz ela, que enxerga o Algorista como uma pessoa “super amável, com sensibilidade pela tecnologia e que tem um olhar perspicaz sobre como a sociedade funciona e como as coisas deveriam ser”.
Quem compartilha de opinião semelhante é Regina Crespo, uma das organizadores da conferência Blockchain View, que em 2016 também conseguiu convencer o Algorista a palestrar. “Ele tem uma visão muito clara do que é o Bitcoin e do que dá para fazer com ele. E ele explica tudo de uma maneira que as pessoas entendem, tudo isso tendo uma visão crítica em relação às limitações da tecnologia”, opina Crespo.
Esse lado didático e professoral levou Hamilton Amorim a lecionar cursos na Mosaico University e também a ajudar os integrantes de uma iniciativa de estudantes que surgiu na renomada faculdade Insper.
A empresa “Blockchain Insper”, fundada por Felipe Santos e João Perpétuo, convidou o Algorista para explicar os conceitos básicos da tecnologia para os participantes do grupo. “O pessoal do grupo passou uma semana inteira estudando Bitcoin e aí o “Algo” chegou lá para explicar tudo de novo, revisar, tirar as dúvidas. A conversa era para durar uma hora e meia e ele acabou ficando lá com a gente durante quatro horas. Ele não queria ir embora”, relembra Santos, que ressalta o lado altruísta de Amorim. “Ele não estava ganhando nada para nos ajudar. Ele realmente tem prazer em compartilhar conhecimento”, diz.
Os problemas do Bitcoin
No dia 23 de setembro de 2015, o Algorista tomou uma importante decisão em sua vida: construir um novo Blockchain que pudesse superar os limites tecnológicos do Bitcoin. “Ao longo dos anos, eu ganhei um conhecimento importante e consegui superar a fase de euforia. Até 2015, eu estava bem eufórico, o bitcoin me sustentava, pagava minhas contas, comprei meu apartamento, carro, plano de saúde e conseguia pagar a escola do meu filho. Não fiquei rico, ainda tenho que trabalhar, mas tive, sem dúvida, uma melhora de vida devido ao bitcoin. Mas a maturidade veio quando eu entendi as limitações econômicas, tecnológicas e políticas do Bitcoin, depois de muitos anos debruçado sobre ele”, explica Amorim.
Na visão dele, o protocolo de Satoshi Nakamoto não tem condições de suportar todas as necessidades da sociedade, principalmente porque ele não foi construído com esse objetivo inicial. Amorim acredita que as maiores limitações do Bitcoin têm a ver com a escalabilidade do processamento de transações, a concentração do poder de processamento da rede e uma desconexão dos fundamentos do protocolo com as leis e regulamentos vigentes na sociedade.
Por definição do código-base do Bitcoin, somente um número relativamente pequeno de transações pode ser incluído em cada bloco. Em média, o Bitcoin consegue performar cerca de sete transações por segundo. Alternativas tecnológicas, como a Lightning Network, uma espécie de rede paralela ao Bitcoin, vêm sendo desenvolvidas para que os usuários possam performar milhões de transações por segundo, mas Hamilton Amorim acredita essa proposta irá inevitavelmente esbarrar em limitações econômicas.
“Eu conheço a teoria da Lightning desde 2013, quando surgiram os primeiros artigos. Venho acompanhando tecnicamente o que está sendo feito. Ela tem um potencial incrível, mas ainda não é solução, porque ela cria uma rede paralela, na qual o usuário que quiser participar precisará realizar duas transações no Blockchain do Bitcoin, uma para abrir um canal de pagamento na Lightning e outra para fechar este canal. Eu acredito que, daqui uns anos, a taxa para performar uma transação na rede do Bitcoin precisará custar muito cara para justificar os investimentos e gastos com energia elétrica que os agentes de mineração, ou seja, os computadores que efetivamente registram as transações, irão incorrer. Será que vamos querer pagar o preço de um carro zero quilômetro para abrir um canal de pagamento na Lightning? Eu acho que não”, opina.
Outra preocupação do Algorista tem a ver com a concentração do poder de mineração da rede do Bitcoin nas mãos de poucas empresas e localidades. Estima-se que pelo menos 70% de todos os computadores que registram blocos de transação na rede do Bitcoin estejam localizados na China e pertençam a poucas empresas. Para se ter ideia, pelo menos três grandes mineradores possuem mais de 51% do poder da rede (chamado tecnicamente de hash power).
“O Bitcoin foi construído de uma maneira que ele pudesse ser muito forte na distribuição da autoridade de poder entre os participantes da rede. Na visão original de Satoshi Nakamoto, todo nó da rede também seria um minerador”, conta Amorim. Os nós têm como função receber, validar e transmitir as transações para que o minerador então possa participar da competição computacional em busca do hash criptográfico que lhe dará direito a registrar um bloco e, consequentemente, obter a recompensa em bitcoins pelo trabalho realizado.
Com a evolução da atividade de mineração, que se especializou a ponto de dedicar operações em larga escala de computadores desenhados especificamente para a tarefa de encontrar os hash, os nós perderam a possibilidade de também atuarem como mineradores. Hoje em dia, nós temos de um lado computadores normais como esses que utilizamos cotidianamente que são os usados como nós da rede e também temos super computadores especializados que atuam como mineradores.
“Nessa situação, os nós não têm poder nenhum. É uma ilusão pensar que o nó tem algum poder sobre a rede. A única função real do nó é ocultar o IP do usuário, mas ainda assim ele não faz isso bem. Além disso, ele te dá a falsa percepção de ser o auditor da rede”, explica o Algorista.
A concentração do poder de mineração aliada ao fato de que esses mineradores não são entidades anônimas compõem o cenário perfeito para que uma entidade central, como um governo, consiga, em certa medida, censurar a rede do Bitcoin. “O minerador precisa ser anônimo para não sofrer pressão. Hoje, ele não é, porque as operações são enormes e é muito fácil identificar uma fazenda de mineração localizada no interior do China ao analisar o consumo de energia elétrica. Então, o que impediria o governo chinês de fechar todas as mineradoras? Se isso acontecesse, a rede do Bitcoin não desapareceria, mas levaria muito tempo até que ela se ajustasse automaticamente conforme determinado nas regras do protocolos. Nesse meio tempo, o que aconteceria com a cotação do bitcoin? Certamente despencaria”, reflete Amorim.
Além das questões técnicas, o Algorista vê um entrave de ordem social para o pleno funcionamento do Bitcoin. “O Bitcoin nasceu em um grupo de pessoas que tendem ao anarquismo. Como você concilia isso com uma estrutura burocrática social? Na sociedade, não existe anonimato. Por exemplo, como você compra um carro de alguém sem saber quem é o vendedor, se aquele carro é roubado ou coisa do tipo? A gente precisa superar isso e levar o Bitcoin e a tecnologia Blockchain para as esferas governamentais e privadas. A sociedade não vai absorver por completo algo com tendências anarquistas. Como eu faço um cartório usar essa tecnologia se ela não tem ligação jurídica com o mundo real?”, indaga.
Um novo conceito de Blockchain
Desde que começou a trabalhar em seu próprio Blockchain, o Algorista definiu três princípios fundamentais que este novo sistema precisa possuir:
1) escalabilidade para milhões de transações por segundo;
2) compatibilidade com a regulação e legislação; e
3) fácil usabilidade.
“A solução que encontrei foi desenhar um sistema no qual não apenas um, mas milhões de Blockchains irão funcionar em sintonia. Cada governo, cada instituição, cada empresa e, na verdade, qualquer pessoa poderá criar o seu próprio Blockchain com as suas próprias regras que funcionarão em escala local e depois precisarão se comunicar de forma ampla com todos os Blockchains existentes dentro desse grande conceito de Blockchains pulverizados”, explica.
Batizado de Tachyon, em referência à partícula hipotética cuja velocidade excede a velocidade da luz, o projeto vem sendo desenvolvido por Hamilton Amorim apoio financeiro da Mar Ventures, companhia brasileira que possui empresas focadas nas áreas de tecnologia financeira e blockchain, como a Mosaico Digital Assets, que por sua vez controla a Mosaico University e a exchange de ativos digitais Modiax.
O Algorista explica que o segredo (que ele ainda não pode revelar) do projeto reside no mecanismo de incentivo desenhado por ele para que os participantes de cada Blockchain atuem com honestidade e não tentem burlar a rede.
No caso do Bitcoin, este mecanismo de consenso e incentivo é chamado de Prova de Trabalho (Proof of Work), que envolve o trabalho computacional realizado pelos mineradores da rede e que culmina com a recompensa do ativo intrínseco da rede, que são as unidades de bitcoin. “No Tachyon, o conceito de interoperabilidade é a chave. Não podemos vislumbrar um cenário no qual um único Blockchain irá registrar todas as transações que são feitas pela humanidade. Precisamos pulverizar isso em vários Blockchains. No Tachyon, não existe o conceito de mineração e, sim, o conceito de validação, no qual múltiplos validadores atuam em um contexto local e interagem em um contexto geral”, conta.
Segundo ele, os múltiplos validadores terão interesses econômicos para não fraudar a rede. “O Tachyon esforça-se em refletir a sociedade como um todo, ele tenta repetir o que já existe na sociedade, toda estrutura hierárquica da sociedade”, resume. Atualmente, o projeto já consegue processar 20 mil transações por segundo em quatro diferentes Blockchains interoperáveis.
Desde que passou a ser apoiado pela Mar Ventures, Hamilton Amorim teve a oportunidade de apresentar o seu projeto para grandes bancos brasileiros, economistas com reconhecimento internacional e também para o Banco Central do Brasil.
Contudo, atualmente, ele diz que precisa montar uma equipe com pelo menos 20 profissionais da área de TI para acelerar o desenvolvimento do empreendimento. O problema, contudo, é que esses profissionais são escassos no mercado. “Se eu não encontrar essa equipe, vou continuar escrevendo sozinho”, conclui o Algorista, que tem como desejo redesenhar o sistema financeiro global dentro de várias Blockchains.